terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cicatrizes na mente: tortura psicológica em interrogatórios



Interrogatórios frequentemente incluem métodos de tortura que não ferem fisicamente o corpo ou causam qualquer dano físico, mas ainda assim são de severa violência psicológica e causam profundo sofrimento, transtornando os sentidos e a personalidade. Formas de tortura psicológica, como confinamento solitário e privação de sono, são normalmente usadas juntamente com os métodos tradicionais de tortura e funcionam como um “intensificador” do sofrimento. O fator cumulativo da tortura prolongada funciona como parte do sistema de tortura psicológica.
                Os interrogatórios orgulhosamente se apoiam no fato de que não fazem uso de métodos de crueldade física para obter informação ou confissão do acusado, mas sim “métodos psicológicos” que não são considerados tortura.  Isso nos traz à discussão do que é tortura psicológica. Assim, os métodos usados nos interrogatórios trazem consigo uma carga de efeitos mentais que podem ser considerados tortura? É um desafio determinar quais métodos de interrogatório são legais e quais podem constituir “tratamento cruel, desumano e degradante” ou tortura.
               

Definindo tortura psicológica

O termo “tortura psicologica” pode estar relacionado a dois aspectos diferentes da mesma entidade. Por um lado, pode designar métodos não físicos - em oposição à tortura física. Enquanto os “métodos físicos” de tortura são bem mais evidentes, como choques elétricos, dilaceração de membros e golpes violentos, os “não físicos”  são métodos que não machucam, marcam ou danificam o corpo. Podem até nem tocar o corpo, mas, em vez disso, “tocam” a mente. Por outro lado, tortura psicológica também pode ser tomada para designar efeitos psicológicos - em oposição a efeitos físicos. O termo “tortura” em geral, refere-se ao uso tanto de métodos físicos quanto psicológicos, ou ambos. Há, algumas vezes, a tendência de se unir esses dois conceitos num só, o que leva a uma confusão entre métodos (“input”) e efeitos (“output”). Essa confusão têm levado algumas autoridades a negar a existência da tortura psicológica como um fenômeno por si.

Se tortura em geral é de difícil definição, ainda mais controversa é a definição de tortura psicológica. Como descrito aqui, a definição universalmente adotada para tortura é baseada em dor e sofrimento severos. O fato de essa definição poder ser aplicada para ambas as formas de tortura, demonstra a estreita relação entre elas nesse aspecto. Tortura física produz sofrimento físico e mental, o mesmo acontece com a tortura psicológica. É, portanto, complicado isolar o fenômeno da tortura psicológica como uma entidade separada e definir suas peculiaridades. As duas são frequentemente usadas em combinação: o terror da tortura física acarreta efeitos psicológicos e muitas formas de tortura psicológica envolvem alguma forma de dor e coerção. O sofrimento psicológico pode, inclusive, ocasionar graves danos ao corpo.
Para fins gerais da definição, tortura psicológica constitui um tipo de tortura que se baseia primariamente nos efeito psicológicos, e somente secundariamente no dano físico infligido.

  
Métodos de tortura psicológica usados em interrogatórios

Os métodos usados durante interrogatórios são normalmente aqueles que causam perturbação dos sentidos ou personalidade, destruindo a imagem que o indivíduo possui de si mesmo sem, no entanto, causarem dor física ou deixarem alguma sequela visível no corpo. Esses métodos são  muitos e são amplamente usados em vários Estados de que se tem registro. Eles são baseados na fragilização do indivíduo quando são retirados dele qualquer espécie de controle sobre a situação em que se encontra, criando um estado de vulnerabilidade forçada, regressão psicológica e despersonalização.
As técnicas envolvem nudez forçada, privação de sono, confinamento solitário, medo, humilhação sexual, encapuzamento e outras formas de privação dos sentidos, posições forçadas de estresse em espaços minúsculos, uso de ameaças e fobias para induzir ao medo da morte, exposição ao frio, privação total de luz, etc.
Um método estritamente indutor do medo é o da execução forjada. A vítima é deliberadamente, mas falsamente, levada a sentir a iminência de sua execução ou de outrem. Isso pode acontecer quando ela é forçada a emitir seu último desejo, cavar sua própria sepultura, segurar uma arma descarregada apontada para sua cabeça e num dado momento ser forçada a puxar o gatilho, etc. Outro método de tortura indireta é forçar o indivíduo a testemunhar a tortura de uma pessoa querida, normalmente um membro da família, ou até mesmo sua execução. Isso apela para os laços afetivos da vítima e sua lealdade para com um parceiro, parete, amigo, etc.
 O fato da tortura psicológica geralmente não deixar danos físicos visíveis é um dos motivos para ser preferida em detrimento da tortura física. No entanto, pode resultar em níveis similares de dano mental permanente. Frisamos novamente que o fator do prolongamento é característica marcante da tortura psicológica. Alega-se que vários dos métodos de tortura psicológica foram desenvolvidos por, ou juntamente com, especialistas da área de psicologia e psiquiatria.

Talita Montenegro

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