terça-feira, 3 de setembro de 2013

Agressões são cometidas na Fundação CASA, instituição de atendimento socioeducativo aos jovens infratores.


A Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) , nome  atual dado  em 2005 à antiga FEBEM ( Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor) possui atualmente 142 unidades espalhadas pelo Estado de São Paulo  e está vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania. Foi instituída com o objetivo de promover medidas socioeducativas para reabilitar jovens que cometeram atos infracionais.


 O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê em seu artigo 122 que a medida de internação nestas instituições somente poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa, II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta; e estabelece principalmente no artigo 125 que : é dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adotadas de contenção e segurança. Porém, ao contrário do que se dispõem, as unidades da fundação praticam torturas e ações violentas contra os jovens.  A violência é usurpada pelo Estado que se organiza através da repressão e do encarceramento, as medidas utilizadas têm servido apenas para controlar, estigmatizar e punir os jovens sem metas verdadeiramente educacionais que sirvam para reabilitá-los ao convívio social.

Em 2005, abriram-se sindicâncias para apurar intolerâncias dentro das unidades, mas quase metade das sindicâncias foi encerrada por falta de provas conclusivas. Nos últimos anos, ocorreram várias demissões e inspeções foram incorporadas à rotina das unidades da Fundação, e algumas destas inspeções foram realizadas de forma inesperada pelos Promotores da Infância e da Juventude. E em 2011, na unidade de Jatobá, internos foram violentados e as ações abusivas da instituição foram denunciadas por familiares. A revista ‘Isto É’  edição de 05 de julho de 2011 publicou uma entrevista com a avó de um dos 16 internos que apanharam nesta unidade , ela relatou que encontrou o neto com hematomas nos braços e nas pernas e as mães de outros internos também confirmaram os abusos contra seus filhos, após o ocorrido a diretora da unidade foi demitida.

No mesmo ano, o subcomitê da ONU de Prevenção à Tortura (SPT) fez uma visita à Fundação CASA bem como às outras instituições de privação de liberdade no Brasil, entre os dias 19 e 21 de setembro de 2011. O subcomitê elaborou um relatório sobre a vistoria feita nestas instituições e expressou as seguintes observações: a privação de liberdade no país não é utilizada como último recurso para as crianças e adolescentes, contrariando por vezes o Estatuto da Criança e do Adolescente, as instituições para menores se diferenciam muito pouco das prisões comuns para adultos e por último, verificou-se que as instituições do sistema juvenil não dão ênfase a medidas socioeducativas.

E a fim de garantir a completa adequação do Brasil ao Estatuto, o subcomitê recomendou que:a) crianças e adolescentes sejam privadas de sua liberdade em última instância, pelo menor tempo possível, com possibilidade de revisão da medida; b) seja realizada uma mudança de abordagem, do punitivo para o preventivo a fim de se evitar uma maior estigmatização e criminalização das crianças; a infraestrutura e os recursos humanos existentes deveriam ser melhorados e o treinamento do pessoal aperfeiçoado; c) o Estado Parte amplie a educação técnica oferecida às crianças e adolescentes mantidos nos centros, de modo a possibilitar sua reintegração em sua comunidade e na sociedade como um todo; d) o Estado Parte mantenha e encoraje a participação dos pais durante todo o período de implementação das medidas socioeducativas, com vistas a permitir a crianças e adolescentes um contato constante com suas famílias.”

Apesar das recomendações dadas pela ONU, percebe-se que o Brasil não atendeu ainda completamente a todas essas orientações.  No mês de maio deste ano, foram registrados casos de tortura em mais uma unidade da  Fundação CASA em São Paulo.   A unidade  João do Pulo  na Villa Maria teve imagens divulgadas pelo programa Fantástico das agressões a seis adolescentes realizadas pelos funcionários; antes mesmo da divulgação das imagens, desde 2011, 34 entidades da sociedade civil em conjunto com o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo que combatem ações que ferem os direitos humanos requisitaram ao atual governador Geraldo Alckimin  a criação de um órgão  independente que combata e previna à tortura nestes locais. 



As entidades acreditam que ações abusivas como as demonstradas nas imagens poderiam ser evitadas pela existência de um mecanismo estadual rígido de combate e prevenção. A proposta foi adiada , o governo estadual de São Paulo alegou  que corria um projeto de Lei Federal n.12.847 que tratava sob o mesmo assunto no âmbito nacional, esse projeto de lei foi aprovado  em O2 de agosto e instituiu um mecanismo federal para o combate à tortura nos locais de privação da liberdade, mas as entidades , ainda assim, afirmam a importância de um mecanismo estadual  em São Paulo pois o mecanismo federal não daria conta de abranger todas as unidades. O Rio de Janeiro  possui um órgão a nível estadual instalado e Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco , por enquanto,  já possuem legislação sobre o assunto.


Após a divulgação das imagens, o Ministério Público de São Paulo iniciou no mês passado as investigações sobre as torturas praticadas na Fundação CASA e funcionários foram afastados dos seus cargos.  Confira as imagens das agressões acima!


Fontes:
Relatório sobre a visita ao Brasil do Subcomitê de Prevenção à Tortura: http://www.onu.org.br/img/2012/07/relatorio_SPT_2012.pdf 

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/08/tortura-na-fundacao-casa-poderia-ter-sido-evitada-com-mecanismo-estadual-de-combate-em-sao-paulo-4375.html

http://www.youtube.com/watch?v=9me2puIrEOA




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